EDITORIAL, Por Prof. Emenson Silva: *“Do camarote quase não dá pra te ver”*

Tem hora que a administração pública parece mais camarote de festa do que prefeitura. E não é força de expressão. Dá para perceber que, em certos lugares, a gestão virou mesmo uma coisa cercada, cheia de tapetes, sofás confortáveis, pulseirinha no braço cara e dizem que muito cara  e acesso restrito.


Parece até que se inspiraram em Valesca para escolher o lema: “do camarote quase não dá pra te ver”. E, de fato, quem tá lá em cima, na área VIP, dificilmente enxerga quem ficou aqui embaixo, na pista, esperando serviço, cuidado, dignidade e, acima de tudo, respeito.


É fácil de perceber. As festas? Sempre no espaço reservado. As fotos? Na moldura dourada, cheias de sorrisos bem produzidos e dos mesmos rostinhos  de sempre. Enquanto isso, o povo observa de longe, da arquibancada da vida, nas chuvas e lamas aguardando ser lembrado não só na hora do show, mas também no dia a dia, onde a vida real acontece.


E não é só nas festas que o camarote virou regra. Parece que essa lógica virou modelo para tudo. Enquanto o pessoal da pulseirinha curte a mesa farta, com whisky, espumante e canapé, quem tá na ponta espera o posto de saúde que não funciona, a rua que nunca sai do barro, a escola que não reforma, o campo de futebol que tá largado, a cultura esquecida, o esporte esquecido, o povo... esquecido. O que se percebe na verdade é que tudo virou festa . Lembrei de Caetano Veloso esta tudo " lindo lindo lindo" (risos) . 


Mas nem sempre foi assim. Ainda tá fresco na memória um tempo em que a prefeitura era, de verdade, a casa do povo. O gestor circulava entre as pessoas comuns abraçando um e outro, dando atenção e carinho um verdadeiro populista . E quando se falava isso, não era só para fazer discurso bonito. O gestor estava no meio da rua, no meio da praça, no meio da festa, andando, conversando, ouvindo, comendo junto, rindo junto, dividindo os problemas e também as alegrias. Governava de pé no chão, olho no olho, lado a lado.


Hoje, olhando de fora, dá a impressão de que o povo virou figurante no próprio filme da cidade. Só serve para bater palma na hora do show, para aparecer no story, para fazer volume na campanha. Porque, na hora de decidir, de cuidar, de fazer, aí... é só para quem tá na lista da área VIP.


E o pior é que nem fazem muita questão de disfarçar. A postura é clara, quase como quem canta no volume máximo: beijinho no ombro para quem não tem camarote. E, assim, a gestão segue desfilando, achando que administrar é escolher quem entra na festa e quem fica do lado de fora olhando pela grade.


Mas a vida tem suas voltas. E quem acha que o povo não vê, se engana. Porque, se do camarote quase não dá para ver quem tá na pista, daqui debaixo dá para ver muito bem quem subiu, quem se isolou e quem esqueceu de onde veio.


Fica aquele velho questionamento no ar: até quando o povo vai aceitar assistir ao show dos outros, segurando o copo descartável, e mendigando o tikin de pinga cara do palco para baixo ? Inclusive pago por nós... enquanto isso, pagamos a conta da festa... sem nunca ser chamado para a mesa? Fica a dica, uma hora alguém resolve puxar a fita, apagar a luz do camarote e lembrar que no fim das contas, quem paga a conta da festa .... não está na lista VIP, mas deveria ser o dono do evento. Sabem quem ? O POVO.
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